segunda-feira, 25 de outubro de 2010

I – Financiamento internacional – Ajuda e Desenvolvimento

O que é ajuda?

Definição: Ajuda económica é o fornecimento de recursos em condições concessionais relativamente às condições prevalecentes no mercado (taxas de juros muito baixas, períodos de graça renováveis ou negociáveis, sem prémio de risco ou pelo menos um prémio muito baixo). A ajuda ao desenvolvimento visa criar dinâmicas positivas de modo a sair de uma situação de crise estrutural (dependência a importações, défice no orçamento do estado, falta de divisas); promover ligações económicas e sociais; melhorar a capacidade de produção interna, reduzir a pobreza e acelerar o processo de desenvolvimento sócio-económico.

Porquê ajuda?

  • Choques ou calamidades:secas, cheias – ajuda dirigida e localizada para afectados.
    Problemas estruturais na capacidade produtiva
  • Superar problemas de instabilidade estrutural ou desajuste estruturais
  • Objectivos militares estratégicos (Exemplos: ajuda militar dos EUA a Coreia do Sul, Taiwan e Singapura; ajuda dos URSS aos países satélites durante a Guerra Fria).
  • Países e regiões não são atractivos e por isso não conseguem captar IDE
  • Escassez ou falta de reservas ou necessidade de poupá-las
  • Empréstimos normais dos bancos comerciais tem taxas de juros muito mais elevadas, com período de maturação e de graça muito curtos.

Tipos de ajuda:

  • Ajuda alimentar e de emergência.
  • Assistência técnica – pessoal e salários assim como o envio de experts e conselheiros ou assessores económicos
  • Programas de ajuda
  • Donativos ou quase donativos

Objectivo último da ajuda é: através da ajuda externa criar dinâmicas posistivas de modo a reduzir, à médio e longo prazo, a ajuda externa.

Ajuda e o Monterrey Consensus (Março de 2002) e
a. Pontos essenciais do Consenso

  • Países recipientes são responsáveis por boa governação e definição de suas prioridades de desenvovimento (ownership)
  • Doadores responsáveis por aumentar o volume e qualidade da ajuda (maior e melhor harmonização dos fluxos de ajuda entre doadores)
  • Apoiar as prioridades de desenvolvimento dos países recipientes
  • Medidas complementares: doadores aumentam a abertura de seus mercados para os países menos desenvolvidos
  • MDGs aceites como critério de medida de desempenho do Monterrey Consensus

b. Cometimento dos doadores no MC em relação ajuda

  • Duplicar o valor actual de ajuda até 2015 o que implica um aumento global de US$ 58 biliões para US$ 116 biliões cuja metade espera-se que seja dirigida para África
    ii. Em quanto a economia dos países recipientes vai crescer? 6% segundo UNCTAD!!! Quão grande é 6%? Cenários optimistas versus pessimistas?

c. Problemas ao aumentar a ajuda (crítica dos cépticos):

i. Retornos marginais decrescentes ( ou mesmo retornos negativos) da ajuda apesar das controvérsias:
1.
Burnside an Dollar (2000), quando ajuda atinge 4% do PNB
2. Foster and Keith (2003), quando ajuda atinge 20% do PNB
3. Lensink and White (2001) uma vez que ajuda atinge 50% do PNB
ii. Problemas com a capacidade de absorção dos países pobres
1. A economia não pode absorver a ajuda sem que crie distorções como Dutch Disease
2. Capacidade administrativa do sector público. Falta de contabilistas, falta de policymakers, falta de recursos humanos para absorver e utilizaros recursos. Ajuda não usada de forma sábia.
iii. Efeito desincetivo
1. (Moral hazard)...Mais ajuda desincentiva reformas que tornem os países pobres independentes... esperando sempre o apoio dos doadores


terça-feira, 28 de setembro de 2010

Dipac Jaintilal sobre a economia moçambicana

Uma entrevista com o prof. Dipac Jaintilal (Parte 1)

Vários temas abordados: (i) crédito à economia moçambicana, défice fiscal, G19 e orçamento do estado, gestão macroecómica, dívida pública interna, pobreza e Sete Milhões.

Uma entrevista com o prof. Dipac Jaintilal (Parte 2)

Vários temas abordados: (i) depreciação (desvalorização) do metical, (ii) mercado cambial, (iii) inflação, (iv) crise económica internacional e (v) reservas internacionais.

João Mosca reflecte sobre as medidas de governação pós 1 de Setembro

Depois de 1 de Setembro, que soluções?

segunda-feira, 27 de setembro de 2010

Como Crescer e Beneficiar se do Crescimento Económico?

As duas dicas abaixo são reflexões de Carlos Castel-Branco, apresentadas no Lançamento do Plano Estratégico de Desenvolvimento de Nampula 2010-2020 (PEP Nampula 2020)

Primeira dica - como crescer? "… para acelerar o seu crescimento de forma saudável, Nampula tem que conseguir aumentar e diversificar investimento, diversificar e articular a produção e reter para utilização económica produtiva real e legítima uma proporção maior da riqueza gerada."

Segunda dica - como se beneficiar do crescimento? "A retenção local de uma proporção maior da riqueza pode ser alcançada por várias formas: articulação da base produtiva e do investimento; tributação do capital (cuja receita pode ser utilizada para criar as condições de diversificação, alargamento e articulação da produção, do investimento e do comércio); promoção do reinvestimento dos lucros financeiros em actividades produtivas interligadas (por exemplo, usando a política monetária para este efeito)."

Medidas de Austeridade em São Tomé e Moçambique

As medidas de austeridade que focam na redução das despesas para responder a crises sociais e redirecionamento de recursos para subsidiar alguma coisa e mais não é apenas "orgulhosamente moçambicana". Os São Tomenses vão no mesmo diapasão e talvez mais agressivos que a elite política (e económica) moçambicana. O foco dos são tomenses é conter o défice público e não para subsidiar pão por 4 meses. Veja aqui. No entanto, em Moçambique e em São Tomé, nada se fala em aumentar as receitas fiscais que pode ser uma medida mais adequada se combinada com a redução de despesas supérfluas e redundantes do estado.

Magid Osman , no jornal o País, discute as circunstâncias em que governos recorrem a medidas de austeridade: (i) quando as despesas políticas excedem em larga medida as receitas públicas; (ii) quando o Estado não consegue honrar os compromissos re­lacionados com a dívida pública; (iii) quando um país, no seu todo, como é o caso da Grécia, se excedeu em consumo, tanto público como privado.

PS. O governo de Moçambique pretende reduzir de 2,6 para 0,3% o tecto para o défice orçamental, já a partir de 2011, no âmbito das medidas de contenção das despesas, afirmou em Maputo o ministro das Finanças, Manuel Chang. (veja aqui ou aqui)

quarta-feira, 22 de setembro de 2010

Correcção de Aula Prática 3 (Exercício 1, Apenas Lançamentos)

1. Faça os lançamentos das operações seguintes e construa a respectiva balança de pagamentos. Os valores estão em milhões de USD.

a) O Japão perdoou parte da dívida externa que Moçambique tinha com este país no valor de 75.
Esta operação é extra-mercado, por isso faz parte da conta capital e é uma transferência de riqueza do Japão para Moçambique. Teoricamente isso significa que a riqueza de Moçambique aumenta. Assim a conta capital é creditada no valor indicado correspondente ao perdão da dívida enquanto há um débito na conta financeira correspondente a redução do passivo de Moçambique no estrangeiro.

b) Uma empresa australiana comprou acções da Cervejas de Moçambique no valor de 5.

Esta transacção é registada como investimento de carteira (uma diminuição de activos) na conta financeira. Não residentes (empresa australiana) obtêm um activo doméstico que entra como um crédito uma vez que fundos entram no país. A contrapartida é um débito na conta reservas oficiais (aumento de divisas).

c) A BhP Billiton reinvestiu parte dos seus lucros na expansão do seu parque de estacionamento no valor de 2.

O valor do reinvestimento feito pela BhP Billiton é equivalente ao investimento directo estrangeiro na economia doméstica. Por isso, uma entrada de capital em Moçambique que deve ser registado a crédito. A contra partida, se for pagamento a pronto, será o aumento de reservas domésticas que se registam a débito. Se, por exemplo, o pagamento for feito através de uma transferência bancária da BhP Billiton em Moçambique, a contrapartida será a diminuição de activos estrangeiros no país (depósitos) que devem ser registados também a débito. (Atenção, o exercício não está a dizer que há distribuição de rendimentos, lucros ou dividendos que devem ser registados na balança de rendimentos. O valor reinvestido já está nas mãos ou sob controlo da empresa e por isso disponível para fazer investimento ou não. Esse valor é um investimento directo estrangeiro).

d) Uma empresa norueguesa contraiu um empréstimo na banca americana e investiu 50 na pesquisa de petróleo na bacia do Rovuma. Desse valor, 25% foram transferências bancárias directas a empresas estrangeiras de fornecimento de bens e serviços, 60% foram pagamentos directos a empresas moçambicanas subcontratadas e o restante foram pagamentos de salários a trabalhadores estrangeiros.

O investimento na empresa que está a pesquisar petróleo é igual a 50 (este valor se divide em três partes: (i) transferências bancárias directas a empresas estrangeiras, (ii) pagamento directos a empresas moçambicanas e (iii) pagamentos de salários a trabalhadores estrangeiros). O estudante tem a opção de ou lançar a crédito um valor total de 50 ou lançar três valores diferentes. Na verdade é irrelevante descrever como o investimento vai ser usado. A operação a débito, vai depender da maneira como é financiada a transacção. Se for em pronto pagamento as reservas vão aumentar (uma operação à débito).


e) Um cidadão Finlandês ofereceu uma das suas casas em Estocolmo à sua namorada de nacionalidade Moçambicana avaliada em 1.

O acto de oferecer uma casa corresponde a uma transacção extra mercado. Isto é, uma transferência de riqueza (propriedade ou activo não financeiro) de um indivíduo para outro. Não deve ser lançado na conta transferências unilaterais (conta corrente), mas sim deve ser lançado na conta capital (onde se lança transferência de activos não financeiros, riqueza e de propriedade). Assim o operação é registada à crédito porque aumenta os activos domésticos no estrangeiro. A contrapartida, à débito ocorre na conta capital.


f) Um cidadão Moçambicano comprou acções da Nokia no valor 0.5 pagando através da emissão de um cheque de uma conta num banco português.

Esta transacção é registada como investimento de carteira (um aumento de activos) na conta financeira. Residentes moçambicanos obtêm um activo estrangeiro que entra como um débito uma vez que fundos saem do país. A contrapartida é um crédito na conta financeira (aumento de activos financeiros domésticos no estrangeiro).


g) A China ofereceu-se para construir o edifício de um Ministério do Governo de Moçambique na cidade de Maputo no valor total de 30. Deste valor metade foi oferecido em material de construção, metade foi usada para o pagamento da mão-de-obra toda ela proveniente da China. 40% dos pagamentos aos trabalhadores chineses serão gastos em Moçambique.

Tanto o valor para material de construção como o valor correspondente ao pagamento da mão-de-obra chinesa é um donativo da China, por isso lançada à crédito na conta transferências unilaterais. A contrapartida, à débito, é balança comercial (material de construção, correspondente a 15) e balança de serviços (pagamento de mão de obre chinesa). É desnecessário registar se 40% dos salários são usados em Moçambique.

h) A Mozal pagou salários aos seus trabalhadores estrangeiros no valor de 5, através de uma transferência para seus países de origem.

O pagamento de salários a estrangeiros é registado à débito porque representa saída de fundos para o estrangeiro. A contrapartida a crédito será diminuição de reservas.

i) Um avião da LAM de regresso a Maputo vindo de Portugal teve de parar de emergência em Luanda para substituir um dos seus motores no valor de 7.

Esta transacção é lançada à debito porque é uma importação de serviços. A contrapartida à crédito é a diminuição de reservas que deve ser registada à crédito. (De forma mais rigorosa, o exercício devia especificar o valor correspondente ao custo do motor substituído – balança comercial – e o custo de substituição desse motor – balança de serviços).

terça-feira, 21 de setembro de 2010

Aula Prática nº 3

1. Faça os lançamentos das operações seguintes e construa a respectiva balança de pagamentos. Os valores estão em milhões de USD.
a) O Japão perdoou parte da dívida externa que Moçambique tinha com este país no valor de 75.
b) Uma empresa australiana comprou acções da Cervejas de Moçambique no valor de 5.
c) A BhP Billiton reinvestiu parte dos seus lucros na expansão do seu parque de estacionamento no valor de 2.
d) Uma empresa norueguesa contraiu um empréstimo na banca americana e investiu 50 na pesquisa de petróleo na bacia do Rovuma. Desse valor, 25% foram transferências bancárias directas a empresas estrangeiras de fornecimento de bens e serviços, 60% foram pagamentos directos a empresas moçambicanas subcontratadas e o restante foram pagamentos de salários a trabalhadores estrangeiros.
e) Um cidadão Finlandês ofereceu uma das suas casas em Estocolmo à sua namorada de nacionalidade Moçambicana.
f) Um cidadão Moçambicano comprou acções da Nokia no valor 0.5 pagando através da emissão de um cheque de uma conta num banco português.
g) A China ofereceu-se para construir o edifício de um Ministério do Governo de Moçambique na cidade de Maputo no valor total de 30. Deste valor metade foi oferecido em material de construção, metade foi usada para o pagamento da mão-de-obra toda ela proveniente da China. 40% dos pagamentos aos trabalhadores chineses serão gastos em Moçambique.
h) A Mozal pagou salários aos seus trabalhadores estrangeiros no valor de 5, através de uma transferência para seus países de origem.
i) Um avião da LAM de regresso a Maputo vindo de Portugal teve de parar de emergência em Luanda para substituir um dos seus motores no valor de 7.

2. A condição de Marshall-Lerner demonstra que para levar a cabo a desvalorização de uma divisa e que esta tenha um impacto positivo na balança comercial, a soma das elasticidades de preços da importações e a exportações tem de ser, em valor absoluto, superior a 1.
a) Relacione a condição de Marshall-Lerner com as evidências empíricas que sustentam a curva J.
b) Quais são os factores que explicam o lag time do impacto de uma desvalorização real na balança comercial


3. Identifique quais são os determinantes da Balança de Pagamentos, pressupostos e previsões do modelo:
a) Abordagem Monetária da Balança de Pagamentos
b) Abordagem de Elasticidades da Balança de Pagamentos
c) Abordagem de Absorção da Balança de Pagamentos
d) Modelo de Mundell-Flemming

4. Explique, no contexto de regime de câmbios fixos, como é que o Banco Central consegue manter fixa a taxa de câmbio. Discuta os possíveis problemas que o Banco Central pode enfrentar ao tentar manter fixa a sua taxa de câmbio.

5. Explique detalhada e graficamente o impacto de um aumento das despesas para financiar uma guerra em que o país está envolvido numa economia com regime de taxas de câmbios fixos com:
a) Perfeita mobilidade de capitais
b) Imperfeita mobilidade de capitais
c) Sem mobilidade de capitais

quarta-feira, 8 de setembro de 2010

Efeito Preço, Efeito Rendimento e Conta Corrente (Apontamentos)

Algumas notas complementares e úteis para aula aqui sobre Efeito Preço, Efeito Rendimento e Conta Corrente. O resto de material sobre Abordagem Monetária da Balança de Pagamentos e o Modelo de Mundell Flemming foi enviado para os emails da turma.

terça-feira, 31 de agosto de 2010

Sistema Monetário Europeu (Apontamentos)

Para os propósitos da aula sobre Sisteema Monetário Internacional sugiro que os estudantes leiam o texto União Económica e Monetária e o Euro e Rumo à Moeda Única. Estes textos servirão de debate na aula e, por isso, todos estudantes são obrigados a ler antecipadamente os textos e trazer uma cópia de cada texto para aula. Nenhum estudante será autorizado a entrar na sala de aulas sem o texto nem fazer a reprodução do respectivo texto na hora em que as aulas decorrem.

domingo, 29 de agosto de 2010

O Sistema de Bretton Woods e o Fundo Monetário Internacional (Apontamentos)

Antecedentes

Antecedentes do Sistema de Bretton Woods são o Padrão Ouro que conseguiu manter um período de relativa estabilidade na economia mundial. Por outro lado, o Sistema de Bretton Woods usava como ponto de referência o período entre as guerras que se caracterizou por grande instabilidade doméstica, falta de disciplina monetária, nacionalismo exacerbado que se traduziu no controle e restrição de comércio e movimento de capitais. O nacionalismo dominava todos os canais de pagamento e de comércio internacional com o objectivo de combater o desemprego e preservar as moedas nacionais. Uma das questões do período entre as guerras é o ensaio de taxa de câmbio flexível que provou ser uma das causas da instabilidade nos mercados.

A necessidade de uma nova ordem mundial já era evidente mesmo antes da II Guerra Mundial terminar. Britânicos (representados por John M. Keynes) e americanos (representados por Harry D. White) começaram a preparar planos para um novo plano do sistema monetário internacional pós guerra.

Proposta de Keynes: criar uma moeda internacional que representa uma certa quantidade de ouro, que deveria ser usada só por governos ou bancos centrais para efectivação das transacções internacionais. Cada governo deveria fixar o valor de sua moeda em termos de unidades dessa moeda. Seria permitida uma mudança, inferior ou igual a 5%, na paridade entre moeda nacional e a moeda internacional, quando o país apresentasse substanciais deficits na balança de pagamentos por um período de dois anos. Países superavitários depositariam a nova moeda internacional num banco internacional a ser criado enquanto os países deficitários tomariam empréstimo desse banco. Para Keynes, o ajustamento do sistema é responsabilidade dos países credores, pois eles não poderiam acumular reservas internacionais. Eles teriam que emprestar suas reservas excedentes ou aumentar suas importações ou, ainda, aceitar discriminação contra suas exportações. O controlo de capitais podia ser feito quando a questão era para tratar crise de balança de pagamentos provocada por fuga de capitais. Responsabilidade de ajustamento cabe aos países credores.

Proposta de White: criação de uma moeda internacional. Defendia a criação de um Fundo de Estabilização Internacional que teria seus fundos advindos de subscrições dos países-membros pagas parte em ouro e parte em moeda nacional. Seu objectivo seria fornecer um volume limitado de moeda ao membro que apresentasse dificuldades na balança de pagamentos. Esse país tomaria recursos, diferentemente da proposta Keynesiana, por meio da venda de sua moeda e compra da moeda de outro país. O plano obrigava os membros a eliminar práticas discriminatórias no câmbio e no comércio externo, via redução de barreiras comerciais. Seriam impostas penalidades apenas aos países devedores, quando seus empréstimos excedessem seus limites. Haveria, também, a criação de um Banco Mundial para financiar a reconstrução. Responsabilidade de ajustamento cabe aos países devedores.

Origem do Sistema de Bretton Woods
Para evitar os momentos turbulentos durante o período que separa as duas Grandes Guerras eis que entre 1 e 22 de Julho de 1944, 730 delegados de 44 países encontraram-se em Bretton Woods, New Hampshire onde assinaram os Artigos do Acordo sobre o novo sistema monetário internacional. Este acordo (que reflecte a proposta americana embora tenha sido modificada para ajustar algumas cláusulas) esperava desenhar um sistema monetário internacional que haveria de garantir pleno emprego e estabilidade de preços ao mesmo tempo que garantiria equilíbrio externo sem impor restrições ao comércio externo.

Decidiu-se pela criação de um Fundo Monetário Internacional (FMI) e de um Banco Mundial, bem como pelo estabelecimento de taxas de câmbio fixas em relação ao dólar norte-americano e um preço em dólares do ouro invariável-US$ 35 por onça (hoje 1 onça = 28.35 g). Países membros mantêm largamente as suas reservas internacionais em forma de ouro ou activos em dólares americanos e tem o direito de vender os dólares ao Banco Central por ouro ao preço oficial. Consistia em um sistema de paridade ajustável ouro-câmbio (combinando uma estabilidade geral das taxas de câmbio com alguma flexibilidade), com o dólar como sua principal moeda reserva.

A maior disciplina na gestão monetária era garantida o requisito de que a taxa de câmbio estar fixa ao dólar, que, por sua vez, estava ligado ao dólar americano. Se os bancos centrais, excepto o FED, adoptasse uma política monetária expansiva pode perder reservas e possivelmente podia estar numa situação em que estaria incapaz de manter uma taxa de câmbio fixa em relação ao dólar…

A experiencia no período entre as guerras mostrou que países não estariam interessados em manter ambos comércio livre e taxa de câmbio fixos à custa desemprego doméstico. Depois da experiência da Grande Depressão, governos eram geralmente vistos como responsáveis a manter o pleno emprego. O acordo FMI tentou incorporar flexibilidade suficiente para permitir países equilíbrio externo duma forma ordeira sem sacrificar objectivos internos ou taxa de câmbios fixos.

No acordo de Julho de 1944 estabeleceram os princípios de funcionamento do FMI. Seu papel seria manter a estabilidade das taxas de câmbio e auxiliar, por empréstimos financeiros especiais, os países com dificuldades em sua balança de pagamentos. O objectivo seria evitar que esses países, ao entrarem em situação de crise financeira devido a desequilíbrios em suas contas internas ou externas, restringissem o comércio lançando mão de desvalorizações cambiais na tentativa de equilibrar suas contas (controles de capitais). O BIRD teria como funções tanto garantir recursos suficientes para a reconstrução dos países atingidos pela guerra quanto promover e apoiar projectos de desenvolvimento dos países que a ele recorressem. Nos dois casos, é importante notar que o regime decisório instituído vinculava se directamente às quotas de capital que cada país detinha e detém na instituição. Função do FMI e Banco Mundial: garantir um fundo de ajuda mútua, estabilidade financeira, diminuir o desemprego, integrar mais os países membros.

Desse modo, o papel dos Estados Unidos ganhou relevância, condicionando o próprio funcionamento dessas instituições, cujas sedes se estabeleceram em Washington, como consequência inclusive da quota de capital detida pelo país.

O Fundo Monetário Internacional
No FMI, cada nação integrante participava com uma quota (baseada em sua importância económica e no volume de seu comércio internacional) que determinava o seu poder de voto e a capacidade de tomar empréstimos do fundo.

Quando o país apresentava um déficit na balança de pagamentos, podia levantar um empréstimo do conjunto de moedas nacionais mantido pelo Fundo, sendo esse valor vinculado ao tamanho de sua quota. Cerca de um quarto desta era automaticamente colocado à sua disposição, e o restante tinha sua disposição sujeita a uma análise.

Em relação às taxas de câmbio, somente em uma situação de desequilíbrio fundamental é que seria permitido à nação, após aprovação do Fundo, alterar a paridade da moeda. Além disso, os países se mostravam muito relutantes em alterar seus valores de paridade. Esse fato fez a operação do sistema Bretton Woods ficar mais parecida com a de um sistema de taxas fixas que a de um sistema de paridade ajustável e deu margem ao surgimento de enormes fluxos de capitais desestabilizadores.

Como com o passar do tempo o número de membros do FMI foi aumentando e para aliviar uma possível escassez de moeda duas inovações foram implantadas, nomeadamente:

• Em 1963 foram formalizados os termos em que o Fundo podia tomar emprestado dos países-membros.
• Nos fins da década de 60, foram criados os Direitos Especiais de Saques (DES), um novo activo de reserva internacionais.

Os DES não são lastreados por ouro ou qualquer outra moeda, porém representavam reservas internacionais genuínas. Esses ativos só poderiam ser utilizados em transacções entre bancos centrais para o acerto de déficits e superávits nas balanças de pagamentos.

Desempenho do Sistema de Bretton Woods e a Economia Americana
Nas décadas de 50 e 60, o comércio e os pagamentos internacionais cresceram rapidamente. Uma das explicações pode ser atribuída às providências do fundo para alterações cambiais e à redução dos controles de capitais. Outra explicação pode ser o fato de os Estados Unidos terem oferecido um arcabouço estável para o crescimento de rendas nacionais no exterior, ao manter um nível de preço relativamente estável e mercados abertos e acessíveis a produtos estrangeiros.

Os sucessos e fracassos do FMI estão intimamente ligados aos sucessos e fracassos da política económica dos Estados Unidos. De 1950 a meados de 1960, os deficits anuais americanos foram pequenos e reflectiam o desejo de outros países de aumentarem as reservas de ouro e de ativos em dólares americanos. Nos fins de 1960, os deficits americanos começam a aumentar sem ser possível relacionar esse fato a uma demanda dos países.

Enquanto a inflação dos Estados unidos estava baixa, o Sistema Bretton Woods funcionou. Entretanto, quando nos fins da década de 60 a taxa de inflação americana aumentava a situação foi ficando insustentável. Quando ocorreu um novo aumento das taxas de inflação na década de 70, alguns países já não podiam mais manter suas paridades. O título ilustrativo:

• Em 1948 – Plano Marshall de ajuda dos EUA para países europeus;

• Em 1968 – BOP dos EUA decresce em cerca de 200% por causa da corrida pelos USD. A estabilidade de USD deteriorou-se.

• Em 1971, 15 de Agosto o presidente dos EUA (Richard Nixon) suspende a convertibilidade do ouro ao valor de 35 USD e, é reajustado para 38USD por onça. A margem de flutuação de várias moedas antes disso era de 1% mas depois em Dezembro de 1971 passa para 2.5%.

• Em marco de 1973, os EUA retiram a sua participação do Sistema de Bretton Woods;

• O Sistema de Bretton Woods é abandonado pelos outros países. A paridade e convertibilidade, do dólar por ouro, são canceladas;

Com isso, o sistema de taxas flutuantes era inevitável. O declínio do sistema Bretton Woods… A solução do problema foi a adaptação de sistema de câmbios flexíveis.

Flutuação Impura e Float
As crises da BOP tornaram-se crescentemente frequentes e violentas nos anos 60 e início dos anos 70. O défice da balança de pagamentos inglesa em 1964 levou a um período de especulação intermitente contra a libra que complicou a política económica da Inglaterra ate Novembro de 1967 quando a libra finalmente foi desvalorizada. A França desvalorizou o franco e a Alemanha a Marco alemão em 1969. Essas crises se tornaram tão numerosas que no início dos anos 70 arrasaram com a estrutura dos câmbios fixos de Bretton Woods.

A aceleração da inflação nos EUA nos finais dos anos 60 foi um fenómeno mundial. Portanto uma interpretação dada ao colapso do sistema de Bretton Woods é quer os países estrangeiros foram forçados a importar inflação dos EUA para estabilizar seus níveis de preço e atingir novamente o equilíbrio interno, portanto tinha de abandonar as taxas de câmbio fixas e permitir que suas moedas flutuassem.

Por outro lado países como Alemanha especulavam em relação ao Dólar norte-americano, ou seja este previam que o dólar ia desvalorizar e neste sentido as suas reservas internacionais aumentavam cada vez mais.

A flutuação das taxas de câmbio em dólar dos países industrializados era vista como uma resposta temporária aos movimentos especulativos incontroláveis do capital. Mas os arranjos adoptados em Março de 1973 passaram a ser permanentes e marcaram o fim das taxas de câmbios fixas e inicio de um novo período turbulento nas relações monetárias internacionais.

Bibliografia Usada e Links Úteis

http://www.rep.org.br/pdf/36-6.pdf
http://www4.pucsp.br/pos/ecopol/downloads/pesquisa_debate/05_24_07_def.pdf
http://www.ie.ufrj.br/moeda/pdfs/bretton_woods_aos_60_anos.pdf
http://vsites.unb.br/face/eco/peteco/dload/monos_022005/livia.pdf
http://haroldovilhena.multiply.com/journal/item/125